Existe apenas o bem e o mal?


O Pastor Responde: Existe apenas o bem e o mal, ou, também há a ação humana?

A questão é: Existe apenas o bem e o mal, ou também há a ação humana? Para responder a esta indagação, precisamos mergulhar nas Escrituras e examinar o que a Palavra de Deus nos revela sobre este tema.


1. A Natureza do Bem e do Mal

Desde o início, a Bíblia nos ensina que Deus é a fonte de todo o bem. Em Gênesis 1, vemos que tudo o que Deus criou era bom. Deus, sendo santo e perfeito, é a personificação do bem absoluto. O salmista declara: "Bom e reto é o Senhor; por isso, ensina aos pecadores o caminho" (Salmo 25:8). O bem, portanto, está intrinsecamente ligado ao caráter de Deus e à Sua vontade.

Por outro lado, o mal entrou no mundo através da desobediência humana. Em Gênesis 3, a serpente, que é Satanás, engana Eva, levando-a a comer do fruto proibido. Com este ato de desobediência, o pecado entrou no mundo, trazendo consigo a corrupção e a separação de Deus. Paulo nos lembra em Romanos 5:12: "Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram."

O mal, então, é a ausência do bem, é o afastamento da vontade de Deus. Satanás, como o pai da mentira e o enganador, é a personificação do mal. Ele busca constantemente destruir a criação de Deus e afastar os homens de seu Criador.


2. A Ação Humana e a Responsabilidade Moral

A questão que nos leva a refletir é: além do bem e do mal, onde se encaixa a ação humana? Para entender isso, precisamos reconhecer que os seres humanos foram criados com a capacidade de fazer escolhas. Em Deuteronômio 30:19, Deus coloca diante de Israel a escolha entre a vida e a morte, a bênção e a maldição, e exorta: "Escolham, pois, a vida, para que vivam vocês e os seus descendentes."

A capacidade de escolher implica responsabilidade moral. Cada ser humano é responsável por suas ações e escolhas. Esta responsabilidade é evidente em toda a Escritura. No livro de Ezequiel, Deus afirma: "A alma que pecar, essa morrerá" (Ezequiel 18:4). Isso nos mostra que somos responsáveis por nossos atos e suas consequências.

Para ilustrar isso, vejamos o exemplo do futuro milênio mencionado em Apocalipse. Em Apocalipse 19 e 20, encontramos a vitória final de Cristo sobre a besta e seus exércitos. "Então, vi a besta, os reis da terra e seus exércitos reunidos para atacarem o cavaleiro e seu exército. Mas a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que realizou diante dela os sinais com que enganou os que receberam o sinal da besta e os que adoraram a sua imagem. Esses dois foram jogados vivos no lago de fogo que arde com enxofre" (Apocalipse 19:19-20).

Neste episódio, vemos Cristo estabelecendo Seu reino milenar de paz. Apocalipse 20:1-3 descreve a prisão de Satanás: "Vi descer do céu um anjo com a chave do abismo e uma grande corrente na mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos." Durante esse período, o mal estará restrito e Cristo reinará com Seus santos na Terra.


3. O Milênio e a Natureza Humana

O milênio é um período em que a influência direta de Satanás estará ausente, e Cristo reinará com justiça e paz. No entanto, mesmo sem a presença de Satanás, a natureza humana ainda terá a capacidade de fazer escolhas erradas. Apocalipse 20:6 nos diz: "Bem-aventurado e santo é o que participa da primeira ressurreição! A segunda morte não tem poder sobre eles, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele durante os mil anos."

Durante o milênio, a natureza pecaminosa do homem ainda estará presente. Isso é evidente pelo fato de que, após o milênio, Satanás será solto por um breve período e enganará muitas pessoas novamente (Apocalipse 20:7-8). A rebelião que ocorrerá após o milênio mostra que, mesmo em um ambiente perfeito, o coração humano ainda pode se inclinar para o mal.

Esta inclinação para o mal está enraizada na nossa natureza caída. Jeremias 17:9 nos adverte: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?" Portanto, as ações humanas, mesmo na ausência da influência direta de Satanás, podem refletir a corrupção inerente do coração humano.


4. A Influência Maligna e as Decisões Humanas

Para entender a ação humana à luz do bem e do mal, é essencial considerar a influência do maligno. Em Efésios 6:12, Paulo nos lembra: "Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais."

Satanás e seus demônios constantemente tentam influenciar e desviar os seres humanos. No entanto, a decisão final de seguir o bem ou o mal cabe a cada indivíduo. Tiago 1:14-15 explica: "Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte."

Portanto, embora haja uma influência maligna, a ação humana é uma escolha pessoal. Não podemos culpar apenas Satanás por nossas ações erradas; devemos reconhecer nossa responsabilidade em resistir às tentações e escolher o caminho do bem.


5. Exemplos Bíblicos de Ação Humana

Para ilustrar melhor, consideremos alguns exemplos bíblicos de ação humana:

Caim e Abel: Em Gênesis 4, Caim e Abel oferecem sacrifícios a Deus. O sacrifício de Abel é aceito, mas o de Caim é rejeitado. Com ciúmes, Caim mata seu irmão Abel. Deus adverte Caim antes do assassinato: "Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo" (Gênesis 4:7). Este episódio mostra que a ação de Caim foi uma escolha pessoal, apesar da advertência divina.

Davi e Bate-Seba: O rei Davi, um homem segundo o coração de Deus, comete adultério com Bate-Seba e, posteriormente, orquestra o assassinato de seu marido, Urias (2º Samuel 11). Davi, ao ser confrontado pelo profeta Natã, reconhece seu pecado e se arrepende. Sua ação foi uma escolha humana, influenciada pela luxúria e pelo desejo de esconder seu pecado.

Judas Iscariotes: Judas, um dos doze discípulos, traiu Jesus por trinta moedas de prata (Mateus 26:14-16). Apesar de estar próximo a Jesus e testemunhar Seus milagres e ensinamentos, Judas escolheu entregar o Mestre. Sua traição foi uma decisão pessoal, embora influenciada por Satanás (Lucas 22:3).


6. O Papel da Graça e da Redenção

A beleza do evangelho está na oferta de redenção e graça. Embora sejamos propensos ao pecado e nossas ações frequentemente reflitam nossa natureza caída, Deus oferece perdão e transformação. Em Efésios 2:8-9, Paulo escreve: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie."

A graça de Deus nos capacita a superar nossas inclinações pecaminosas e a viver de acordo com Sua vontade. O Espírito Santo nos ajuda a discernir entre o bem e o mal e nos fortalece para escolher o bem. Gálatas 5:16-17 nos encoraja: "Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis."


7. A Necessidade de Discernimento e Sabedoria

Como crentes, somos chamados a exercer discernimento e sabedoria em nossas ações. Em Filipenses 1:9-10, Paulo ora para que o amor dos filipenses cresça em conhecimento e discernimento, "para que aproveis as coisas excelentes e sejais sinceros, e sem escândalo algum, até ao dia de Cristo."

Devemos buscar a sabedoria que vem do alto, conforme descrito em Tiago 3:17: "Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente, pura; depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia."


Em nossa caminhada cristã, enfrentamos a realidade do bem, do mal e a complexidade das ações humanas. A Bíblia nos ensina que Deus é a fonte de todo o bem, enquanto o mal é a ausência de Sua presença e vontade. A ação humana, por sua vez, é uma expressão de nossa capacidade de escolher entre o bem e o mal, refletindo nossa responsabilidade moral.

Mesmo no futuro milênio, onde a influência direta de Satanás será restrita, a natureza pecaminosa do coração humano ainda poderá levar a ações erradas. Portanto, devemos reconhecer nossa responsabilidade pessoal e buscar constantemente a orientação e capacitação do Espírito Santo para viver de acordo com a vontade de Deus.

Que possamos, como comunidade de fé, crescer em discernimento, sabedoria e amor, escolhendo o bem e rejeitando o mal, enquanto aguardamos com esperança a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.


Por Pr Márcio Batista
Foto: (OleksandrPidvalnyi/Pixabay) Reprodução / Divulgação


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